Vasco fechou os olhos , continuando a ver a foto de ambos, tão sorridentes. Tomás, cuja atenção estava concentrada na imagem de Mariana, centrou-se agora nos olhos fechados de Vasco, como que procurando ler os seus pensamentos. Vasco afundou o rosto na almofada e, por um leve instante, a angústia da ausência feriu-lhe o peito, em pleno. Todas as memórias estavam marcadas a ferro e fogo, os momentos vividos eram o seu bálsamo, as recordações funcionavam como oxigénio.
Acariciou a cabeça de Tomás, que, por um segundo, fechou os olhos, sentido como nunca a falta de Mariana, dos serões passados ao seu colo, acariciando-lhe o pêlo, enquanto a sua voz melodiosa envolvia a sala, em conversas partilhadas. Estes serões eram o reino de Vasco, Mariana e Tomás.
Envolto em memórias, recordou aquela viagem “juntos”, sob o olhar algo
intrigado de outros passageiros, alguns dos quais já tinham manifestado surpresa ao ver Mariana e Vasco tomarem o pequeno-almoço no hotel, envoltos em à-vontade e alguma [já] cumplicidade. Tal a colega, também a tripulação, que não era a habitual, presumiu que eram um casal que regressava a casa naquela manhã de sábado. Vasco escondeu um sorriso e Mariana mostrou-se desinteressada “que pensassem o que quisessem, ora”. Vasco aprendia a “lê-la”, não através das poucas palavras que proferia, mas pela expressividade do olhar, pela postura corporal… pela autenticidade.
Vasco recordou, num flash, o dia, meses após este dia, em que perguntou a Mariana o porquê de tão poucas palavras, que respondeu pausadamente: “A minha voz é uma arma profissional. Dependo dela. Fora dessa área, uso-a com moderação e… nem sempre tenho nada de importante para dizer”, soltando uma gargalhada. Vasco apertou-a nos seus braços, beijou-lhe a fronte e murmurou: “Tu és tão especial”.
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