domingo, 11 de novembro de 2012

~ 45 ~




A noite terminara sem incidentes desagradáveis: o jantar decorrera na normalidade (Vasco interrogava-se sobre a nova definição de 'normalidade'), todos pareciam felizes por estar juntos. Os jovens eram sinceros nas suas emoções, a pequena era transparente na dedicação. até Smile, deitada sobre a imensa carpete, sentia-se em paz.

Quando os pais deram a refeição por terminada, os rapazes levantaram-se de um salto (era demasiado tempo parados para a sua juventude.), Vasco levantou-se lentamente, enquanto a pequena corria ao andar superior para lavar os dentes e não perder um instante sequer longe do pai. Smile não abandonou a sala. Permaneceu. O casal encontrava-se agora a sós e a aparente cordialidade desaparecera. Vasco olhou o rosto magro e fechado - outrora tão belo e resplandecente -, e os olhos frios que o fitavam com escárnio: " Até quando esta farsa vai durar?". Vasco pensou: "já nem a farsa dura, não existe nada, nem sequer indiferença", mas respondeu: "Pouco tempo, a Pequenita está a crescer rapidamente". Virando as costas, Vasco dirigiu-se à porta da sala, seguido por Smile, encontrando a filha que se aproximara. Dirigiram-se os três para o alpendre. O balouço. O balouço albergou-os, enquanto olhavam as estrelas na noite tranquila.
Smile ao pés, ressonava ligeiramente, fazendo a pequena sorriu e encostar-se ao pai com mais força: "Quando voltas, Pai?" - sempre a mesma pergunta, mesmo sabendo que obteria sempre a mesma resposta: "Rápido, querida, rápido, tens a escola, os colegas e os estudos. Depois, contas-me tudo".

Vasco abraçou-a com força, agora no seu colo. Reconfortou, assim, o corpo frágil da criança, que se aninhou no seu peito, contemplando a noite.






sábado, 10 de novembro de 2012

~ 44 ~




De novo, Mariana sentia-se em paz, na sua casa vazia. A presença de Tomás era suficiente, a sua tranquilidade transmitia-lhe um sentimento de paz. Permitiu que as horas daquele domingo passassem devagar, saboreando instantes e, surpreendentemente, sem dúvidas. Essas, afastava-as com um ligeiro acenar de cabeça.
Mariana não se reconhecia. Evitava olhar-se ao espelho e encarar o rosto afogueado, a respiração ofegante e a mente dispersa.

Procurando relaxar, refugiou-se numa banheira de água tépida, sempre vigiada por Tomás, que não a perdia de vista.
Com esforço, preparou a semana de trabalho que se avizinhava, fez a mala como um autómato. no entanto, sorriu ao colocar alguma roupa informal e um elegante vestido de noite.
Vasco. o rosto de Vasco, o seu olhar trocista. e um sorriso brilhou no seu rosto.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

~ 43 ~




O passeio estendera-se por demasiado tempo e, apesar do banquete matinal, era tempo de voltar. O rosto infantil ensombrou-se ao avistar o enorme casarão no horizonte e Vasco sentiu um aperto na mão. e um nó na garganta.
Apenas Smile apresentava sinais de cansaço e entrou em casa a correr, em direcção à tigela de água. Com passos lentos, pai e filha entraram em casa: os rapazes estavam na sala principal, entre música e vídeo jogos. Levantaram-se de um salto para abraçar o pai e Vasco soltou por instantes a mão da pequenita e, assim, pode abraçar os três filhos.
Eram aqueles momentos, era por aqueles momentos que Vasco se mantinha.
Ou melhor, a indiferença apoderara-se e apenas ela reinava.

Um vulto na sacada da sala fez com que Vasco se afastasse dos jovens e dirigiu-se com passos firmes e semblante carregado. Beijou a face que a mulher lhe estendida e segredou: "Ao jantar, não quero fitas à frente dos miúdos. Esta noite, vamos jantar em família".


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

~ 42~




Despertou daquela letargia um com ligeiro incómodo. Tomás moveu a cabeça, olhando a com ar interrogativo. Mariana apercebeu-se que passara ...quantas horas passaram? Quantas horas passaram desde a última vez que os seus olhos viram os de Vasco?


A luminosidade matinal desenhava pequenas elipses no seu rosto: domingo estava nascendo e, no dia seguinte, iria rever Vasco - Mariana sorriu em direcção da janela, como se a luz fosse um raio de Esperança.

Erguendo-se do canapé, pegou em Tomás, que se aconchegou ao seu peito.
O corpo fofo e macio restituiu-lhe conforto e, subitamente, Mariana sentiu um apetite voraz.
Na pequena, mas feminina cozinha, colocou fatias de pão na torradeira, enquanto, Tomás bebia leite, nunca a perdendo de vista. Energicamente, fez café e, em breve, o suave aroma preencheu o recinto. Mariana aspirou profundamente: café e manhã, dois aromas associados e sempre diferentes. Colocou doce de pêssego no pão e sentou-se à mesa, servindo-se de leite e café. Comendo com vontade, Mariana sorriu, enquanto o afagava: "E agora, Tomás? E se esta maravilhosa manhã for..."
Não se atreveu a completar a frase.
Mariana sentia-se feliz. Estranha e injustificadamente feliz.







quarta-feira, 7 de novembro de 2012

~ 41~




Com Smile deitada a um canto, pai e filha partilhavam não apenas uma refeição dominical, mas momentos memoráveis, que iriam permanecer na memória de ambos durante muito tempo. A criança atropelava-se nas palavras, querendo contar todas as aventuras de uma vez. A escola, os colegas, os professores, o aniversário da prima na véspera, as brincadeiras no jardim, os jogos com Smile. Vasco ouvia-a atentamente, absorvendo a alegria e entusiasmo da petiza. Terminada a refeição, a pequena saltou da cadeira quando o pai anunciou: "E agora, um grande passeio." Smile levantou a cabeça, e a voz da criança fez-se ouvir: "E lavar os dentes?!" Atrapalhado, Vasco condescendeu: "Só desta vez vamos já passear", mas a ideia de voltar ao andar superior deixava-o particularmente incomodado. Assim, saíram os três pela ampla porta para o exterior, com acesso directo ao campo verdejante. Com a criança pela mão e Smile a ladeá-los, permitiram que a Natureza invadisse e perpetuasse aquela manhã.
Mesmo inteiramente dedicado à filha e àqueles maravilhosos momentos, de vez em quando, a imagem serena de Mariana surgia-lhe no horizonte.
Vasco sorria.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

~ 40~



Com Smile deitada a um canto, pai e filha partilhavam não apenas uma refeição dominical, mas momentos memoráveis, que iriam permanecer na memória de ambos durante muito tempo. A criança atropelava-se nas palavras, querendo contar todas as aventuras de uma vez. A escola, os colegas, os professores, o aniversário da prima na véspera, as brincadeiras no jardim, os jogos com Smile. Vasco ouvia-a atentamente, absorvendo a alegria e entusiasmo da petiza. Terminada a refeição, a pequena saltou da cadeira quando o pai anunciou: "E agora, um grande passeio." Smile levantou a cabeça, e a voz da criança fez-se ouvir: "E. lavar os dentes?!" Atrapalhado, Vasco condescendeu: "Só desta vez. vamos já passear", mas a ideia de voltar ao andar superior deixava-o particularmente incomodado. Assim, saíram os três pela ampla porta para o exterior, com acesso directo ao campo verdejante. Com a criança pela mão e Smile a ladeá-los, permitiram que a Natureza invadisse e perpetuasse aquela manhã.
Mesmo inteiramente dedicado à filha e àqueles maravilhosos momentos, de vez em quando, a imagem serena de Mariana surgia-lhe no horizonte. 
Vasco sorria.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

~ 39~




Deu acordo de si estendida no canapé, sem saber se adormecera, se viajara.
Tomás deitara-se sobre as suas mãos, transformando-se num belo e confortável regalo. Com a ponta dos dedos, Mariana afagou-me o queixo: " Diz-me tu...que encerras segredos milenares dos teus ancestrais diz-me, Tomás.... veio este homem transformar a minha vida?" 

Nos olhos oblíquos, Mariana encontrou a resposta que procurava. E manteve-se recostada, com Tomás ao colo, enquanto a penumbra invadia o atelier, mas a luz inundava o seu coração. 
A voz de Vasco ressoava na sua mente, de uma forma tão real, tão profunda e Mariana permitiu que a sua alma, tão aprisionada, voasse.