“Querida Mar,
O Sol já vai longe, levando o seu calor a outras paragens. Queria eternizá-lo, tal como a tua presença junto de mim. A tua ausência dilacera-me. Recordo, todos os instantes, o teu sorriso, o teu olhar. A forma como mordes o lábio, cada vez que ficas embaraçada ou sem palavras. Como baixas o olhar, quando precisas ganhar um instante para voltares a ti. As viagens que fazíamos, de veleiro - insistias sempre que as nossas fugas fossem de veleiro, lembras-te? “Se é para fugir, que seja como eu quero…” era o teu argumento irredutível. E eu, eu limitava-me acompanhar-te, cegamente, para onde quer que fossemos…
Não olho para ninguém como olho para ti, Mar…só a ti vejo, só a ti sinto, vives em mim, quando durmo ou acordado. As palavras parecem-me escassas e vãs, Mar, os pensamentos e as memórias atropelam-se, toldam-me o raciocínio.
Estou perdido em ti…(…)”
Ternamente, dobrou-o com extremo cuidado, recolocando-o na caixa que era a sua morada. Voltou a encostar a testa - agora escaldante - ao vidro da janela e encontrou, desenhado na rua, o rosto de Vasco, que lhe sorria.
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