O vento satisfez-lhe a vontade e transportou Mariana para “o nosso tempo”, conforme tinha proferido. Abandonou o corpo no canapé, permitindo que a mente voasse através do temporal que açoitava a janela.
A primeira vez que viu Vasco. Que viu não, que o sentiu…naquele aeroporto internacional, de cadeiras duras e cinzentas, tomadas eléctricas para abastecer portáteis e outros instrumentos de trabalho. A sala de embarque preenchida de fatos escuros, camisas brancas e gravatas cinzentas ou azuis.
Mariana procurava sempre um local afastado, onde pudesse encostar o troiley e pousar a pasta. Afastado suficiente para não despertar atenção no mundo masculino e suficientemente longe de outras mulheres, acompanhadas de famílias, que a olhavam com desconfiança, considerando-a uma ameaça. Mariana estava habituada com ambas as situações e tentava geri-las da melhor forma que podia, mantendo-se discreta e afastada até à abertura da porta de embarque. Isso não impedia que despoletasse olhares, sendo de curiosidade masculina ou de malícia feminina, não obstante a aliança, grossa e brilhante, que habitava no anelar esquerdo, acompanhada do magnífico solitário que celebrara o noivado.
A espera, por vezes longa, permitia-lhe esquematizar resumos, anotar ideias em pequenas notas, sumariar relatórios, preparar novas apresentações, enfim, tudo aquilo que era o seu mundo dedicado à carreira profissional que escolhera.
Mariana e Vasco pertenciam ao imigrantes intelectuais, ausentes toda a semana: o primeiro voo à segunda-feira, pelas 07:40h e o último de sexta, pelas 20:05h, de regresso a Lisboa.
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